No início de abril, a UNESCO, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que trata da educação e cultura, fez um levantamento de que, até o momento, a disseminação do vírus causador da COVID-19 fechou escolas em 165 países, incluindo o Brasil, suspendendo as aulas de 87% dos alunos de todo o mundo. Em meio a esse cenário, estas e outras instituições de ensino buscam formas de dar continuidade às suas funções ao mesmo tempo em que tentam preservar seus alunos, professores, técnicos e outros funcionários de uma doença, cuja as consequências sanitárias, econômicas e sociais ainda não são totalmente conhecidas.
A utilização da tecnologia para aulas e atividades online, se mostrou como uma alternativa para reduzir as perdas causadas pela suspensão das aulas diante da pandemia de COVID-19. Essa modalidade de ensino conhecida como EaD (Educação à distância), é muito utilizada pelo ensino superior, tanto como forma de se cursar uma graduação quanto ferramenta auxiliar das aulas presenciais. No caso da educação básica, algumas instituições privadas brasileiras já deram início à elaboração de plataformas digitais, juntamente como a capacitação de seus professores para a produção dos conteúdos a serem disponibilizados para seus alunos. Já as instituições municipais e estaduais encontram dificuldades maiores na aplicação e desenvolvimento desta modalidade, devido a fatores como a falta de verbas para investimentos em tecnologias e o despreparo dos alunos e pais para lidar com essa situação de forma imediata. No entanto, em alguns estados do país a implantação do EaD é certeira. Como será resolvida essa nova modalidade nas escolas públicas? Como possibilitar maior estrutura para o desenvolvimento EaD? Quais são as dificuldades a serem superadas com a sua utilização?
O ensino na modalidade EaD vem sendo discutido entre os brasileiros há pelo menos 50 anos, sendo que apenas há duas décadas foi criada a Secretaria de Educação à Distância (SEED) com o intuito de auxiliar e estruturar a criação de conteúdos através de plataformas online. Apesar de anos de estudos com embasamentos científicos para aprimorar esse método, algumas escolas acabam tornando este ensino superficial somente gravando aulas e transmitindo o conteúdo para os estudantes, deixando de lado todo o desenvolvimento social, humano e intelectual que são consolidados, muitas vezes, dentro das escolas. É preciso definir estratégias viáveis, que pressupõe um tempo mínimo de planejamento e organização, que façam com que os alunos, professores e gestores trabalhem em sintonia dentro do EaD.
No estado de São Paulo, no dia 03 de abril de 2020, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEDUC-SP) informou aos profissionais da educação e aos alunos da rede estadual que a partir do dia 22 do mesmo mês, todas as atividades seriam feitas a distância com o auxílio de um aplicativo chamado “Centro de Mídias SP”, onde seriam divulgados aulas e outros conteúdos para os alunos, com o intuito de substituir o calendário escolar. Dias depois, a Rede Escola Pública e Universidade – REPU, se posicionou sobre essa decisão do governo do estado de substituição do calendário, criticando a mesma, uma vez que nem todos os alunos teriam toda a estrutura necessária para seguirem com os estudos.
A adoção do Ensino à distância levaria a uma agravamento da desigualdade no sistema de ensino. Nem todas as famílias possuem equipamentos como computadores, celulares, tablets e acesso à internet. Segundo a Pesquisa TIC Domicílio realizada em 2018 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 33% das casas brasileiras não têm nem acesso à internet e em geral são casas de famílias menos favorecidas. Embora adolescentes sejam capazes de desenvolver autodisciplina para manter uma rotina de estudos em casa, as crianças, no entanto, por estarem em uma fase inicial de escolaridade e inserção no ensino tradicional, ainda não desenvolveram por exemplo o hábito de estudos, e o pensamento concreto sobre como e porque estudar, considerando isto ainda não fortaleceram sua autonomia e capacidade de concentração. Sendo assim, elas são as que mais necessitam de tutoria e acompanhamento de pelo menos um adulto disposto a ajudá-las. Isso pode ser um problema pois os responsáveis podem não saber como conduzir os estudos ou podem não estarem disponíveis por precisarem trabalhar, mesmo diante da determinação de distanciamento social.
Além disso, por quem serão elaboradas as vídeos aulas e atividades? As pessoas mais indicadas são os professores, e certamente eles não têm condições de disponibilizar conteúdos tão de imediato. É necessário tempo para poder aprender e pensar atividades que podem ser executadas. Os educadores, principalmente os veteranos na profissão, podem não ter conhecimento de maneiras de engajar através das plataformas digitais, dificultando o feedback e influenciando também sobre a noção de como está o desenvolvimento do aluno perante as propostas educativas dos professores. Deve-se considerar também quais são as melhores plataformas para o estudo das diferentes turmas.
Por fim, substituir a escola, mesmo que emergencialmente, pelo EaD reduz o papel da instituição e retira a obrigação do Estado de se responsabilizar pela educação desses estudantes. Ignora-se o fato de que a escola não é simplesmente um espaço de disseminação de conteúdos e sim um ambiente de aprendizado baseado nas experiências e interações entre alunos e todo o corpo escolar.
Diante disso fica claro que não se pode substituir tudo o que a instituição escolar oferece por um método oferecido às pressas pelo governo para preencher um buraco durante a situação extrema que o país vive. Seria necessário uma maior preparação dos nossos profissionais e um tempo maior para estruturar um método efetivo de se aplicar essa modalidade para a rede pública de forma justa para todos os alunos. O adiantamento de recessos e férias escolares poderia ser uma forma de se obter mais tempo para o planejamento das atividades e para a resolução dos problemas estruturais envolvidos. Enquanto isso, deixemos que as crianças e jovens realizem as atividades que gostam como brincar, jogar, aprender novas habilidades e estar perto da família, respeitando o distanciamento social, é claro, e também que aceitem e aprendam a lidar com os impactos emocionais e psicológicos de terem suas vidas mudadas radicalmente em um curto espaço de tempo.
Fontes:
https://www.cetic.br/pesquisa/domicilios/indicadores/
https://www.ead.com.br/ead/como-surgiu-ensino-a-distancia.html
Ass: Tamara Furlan, Mateus Vinicius, Augusto Nascimento, Larissa do Bem