O que há de essencial no Ser humano? Sua mente incomum entre os seres vivos conhecidos, movida pela ânsia do obscurantismo, evidencia questionamentos primordiais em uma interminável jornada na esperança de se encontrar. Nossa história nos mostra que a resposta é um complexo entre o Ser e o Universo, transcendendo qualquer tentativa de segregação. O presente texto é uma crítica à valorização dos saberes científicos enquanto desvirtuadores de outras formas de conhecimento.
Não é difícil compreender o porquê das ciências em geral serem muito valorizadas em alguns grupos da nossa sociedade. Os métodos científicos em algumas centenas de anos possibilitaram mais avanços tecnológicos, por exemplo, do que outras formas de conhecimento como arte, teologia e filosofia. No entanto, se a afirmação anterior por si só é justa, por que essas outras formas de conhecer ainda permanecem tão consolidadas em nossa sociedade? Uma vez que é um processo natural na vida de um indivíduo a seleção do que este julga ser útil, essas outras formas de conhecimento devem ser, de alguma outra forma, tão importantes para a sociedade quanto as ciências.
A espiritualidade, por exemplo, pode ser vista como uma maneira de investigar o íntimo do que é ser humano a partir da perspectiva mística e única. Uma oportunidade de se autoconhecer através de reflexões derivadas de alguma vertente religiosa específica que servirá como um guia para o desenvolvimento pessoal. Deste modo, fica implícito o reconhecimento do humano como um universo, sendo cada indivíduo de fato singular. É a priorização da busca pelas respostas fundamentais à existência em seu interior, mas não necessariamente excluindo nosso vínculo com a natureza.
A fim de evidenciar essa outra maneira de pensar, foi criado em 1972 o Prêmio Templeton, conhecido como o “Nobel da religião”. A honraria é concedida a pessoas que contribuíram para o progresso da humanidade apresentando alguns aspectos que mostram a importância da espiritualidade como um dos meios para o desenvolvimento humano, conteúdo que para seu criador, Sir John Templeton, não era valorizado pelo Nobel. O último agraciado com o prêmio, já concedido a grandes personalidades como Madre Teresa e Dalai Lama, foi o físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser, que se tornou o primeiro latino-americano a recebê-lo devido ao conjunto de suas obras.
Seria um erro, entretanto, concluir que as ciências e as espiritualidades são maneiras equivalentes de conhecer. Ainda que para algumas pessoas, de fato, possam ser julgadas como complementares, há uma divisão natural entre elas que não deve ser violada. Entende-se por divisão natural o que fundamenta essas diferentes formas de buscar conhecimento. Enquanto as ciências se concentram em conhecimentos sistematizados adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos através de análises formuladas metódica e racionalmente, as espiritualidades são expressões de fascínio que o ser humano tem pelo cosmos e a existência por meio de crenças transmitidas culturalmente ao longo do tempo. Estas crenças estão sujeita a análises, mas em geral com um viés sócio-cultural, não objetivando desvinculá-la de sua origem não racional.
Nas palavras de Marcelo Gleiser “As pessoas se sentem ameaçadas pela ciência, achando que ela vai ‘matar’ os deuses. É essa distorção que os cientistas devem combater, e não a fé. A ciência não quer roubar Deus de ninguém.” A ciência nos fornece uma explicação de diversos fenômenos naturais. Uma descrição consistente do universo ao nosso redor e dos seres vivos que nele habitam. Contudo, somos muito mais que matéria e energia, que o racional e lógico. O mistério da existência permanece, assim como nossa busca por respostas. A natureza, a ciência, espiritualidade e as nossas diferentes formas de expressar nosso fascínio pelo desconhecido nos encaminham para um dos questionamentos mais fundamentais: o que somos afinal?
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%AAmio_Templeton
https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/05/30/fisico-e-astronomo-brasileiro-marcelo-gleiser-recebe-premio-templeton-2019-em-cerimonia-nos-eua.ghtml
https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/03/20/astronomo-brasileiro-marcelo-gleiser-ganha-o-premio-templeton/
https://exame.abril.com.br/ciencia/fisico-brasileiro-marcelo-gleiser-recebe-premio-templeton/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcelo_Gleiser
https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/03/fisico-marcelo-gleiser-ganha-nobel-do-dialogo-e-da-espiritualidade.html
Ass: André Cachova, Julia Pinheiro e Larissa do Bem