(Des)Valorização Docente

Um prêmio de destaque na área educacional, o Global Teacher Prize (Prêmio Mundial de Magistério, em tradução livre) tem reunido educadores do mundo todo com o objetivo de reconhecer seus trabalhos e como estes impactaram em suas comunidades para, através disso, demonstrar quão importante é a profissão. O prêmio foi instituído em 2015 como resposta à uma pesquisa realizada em 2013 pela Fundação Varkey, juntamente com a Populus, que teve por objetivo a análise da visão de 21 países sobre o professor. Esta pesquisa concluiu que na maioria dos lugares este profissional não era tão valorizado como deveria, e por consequência, o prêmio foi uma alternativa para se chamar a atenção do mundo para a área da educação.

Em sua primeira edição, o prêmio recebeu mais de 5.000 inscrições de 127 países, o que chamou a atenção da imprensa, que nomeou o evento como “Oscar da educação” e “Nobel da educação”. O apoio da mídia foi de extrema importância, já que o objetivo primordial do prêmio é justamente a valorização da profissão de professor. Em sua última edição, mais de 30.000 educadores concorreram. Dentre tantos profissionais, dois chamaram muito a atenção brasileira: Débora Garofalo, que ensina robótica a seus alunos a partir de sucata, e Jayse Ferreira, professor de artes que buscou renovar sua forma de ensino, e que também já foi premiado em território brasileiro com um projeto sobre etnias.

Segundo o canal Futura, estes educadores conseguiram boas colocações na premiação devido ao impacto que seus projetos trouxeram tanto para o ambiente escolar quanto para a comunidade. O ensino de robótica da professora Débora colocou os alunos em sintonia com a realidade do seu dia a dia, e ainda despertou o interesse deles para pensar em novas oportunidades pessoais e profissionais. Já os projetos do professor Jayse permitiram que seus alunos transformassem as aulas nos cenários de seus filmes, séries e jogos favoritos, a partir de produções audiovisuais que unissem a tecnologia atual às matérias escolares.

Iniciativas como a destes dois professores, onde a formação é vista como indo além do conteúdo exigido dentro da sala de aula, trouxeram mudanças na prática educacional, proporcionando um ensino de qualidade e um maior envolvimento dos alunos com a mesma, já que os estudantes podem se envolver com as problemáticas da comunidade e trabalhar com seus hobbies favoritos. Atividades como essas podem colaborar com a organização de ideias, comunicação, dicção e outras maneiras de se expressar, por exemplo. O que pode ajudar na escrita de textos, pensamento crítico sobre diversos assuntos e até mesmo a apresentação a diferentes visões de mundo,  já que o contato com outras pessoas nos mostra ideais e realidades distintas. Tal troca de experiências é mútua, já que o professor tem tanto a aprender quanto seus alunos.

Tendo em vista essa perspectiva, cabe-nos questionar o porquê de nem todos os profissionais da área educacional terem iniciativas como a destes educadores. Como resposta, podemos elencar alguns pontos que desmotivam o trabalho dos professores. Quando pensamos nos salários iniciais, o Brasil fica em última colocação, segundo uma pesquisa anual realizada em 40 países pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Esta pesquisa revelou que a média anual do salário de um professor da educação pública é de US$ 13.971 (aproximadamente 58 mil reais). No Estado de São Paulo, por exemplo, um professor que leciona 40 horas semanais tem uma renda mensal média de R$ 2.585, o que a princípio parece muito, mas, dada a jornada exaustiva e o trabalho além da sala de aula, torna-se insuficiente para o sustento familiar.

Para contornar a desvalorização salarial muitos docentes acabam excedendo a carga horária que seria a ideal, trabalhando em várias instituições de ensino. No estado de São Paulo, a jornada de trabalho do professor pode chegar a oitenta horas semanais. Do ponto de vista financeiro, tal alternativa é válida, porém, da perspectiva da qualidade do ensino, não, pois além do cansaço físico e mental, o profissional deixará de lado algumas funções importantes relacionadas ao seu trabalho, como um investimento na formação continuada ou até mesmo o tempo necessário para se envolver mais nos problemas dos seus alunos e da comunidade na qual está inserido.

Outro ponto que desmotiva os licenciandos brasileiros é a falta de um plano de carreira. Este forneceria um planejamento de longa data, com jornada de trabalho, formação inicial e continuada, condições de trabalho, como seu desenvolvimento se dará ao longo do tempo, e outras coisas importantes para quem almeja trabalhar na área, o que daria uma perspectiva de futuro mais promissor ao docente, além de uma maior estabilidade, encorajando-o, assim, a fazer um maior investimento em sua carreira profissional.

Logo, tomando o cenário da educação brasileira como um todo, percebemos alguns pontos que auxiliam na desvalorização do ensino e do docente. Porém, não devemos culpar tal acontecimento apenas por conta dos fatos e perspectivas já citados, mas também pela falta de incentivo para seguir a carreira do magistério, já que “ser professor” não é mais visto como uma ocupação de grande prestígio social. Por conta disso, a grande maioria dos estudantes sequer aspira a carreira acadêmica, pois não creem que poderão crescer profissionalmente em um mercado onde cada vez mais se desvaloriza o trabalho educacional. Isso ficou evidenciado pela pesquisa que deu origem ao Global Teacher Prize, que nos deu uma visão mundial sobre o problema.

Ass: Andressa Magno e Vitor Correia

Fontes:

https://www.youtube.com/watch?v=ZRb1cNll724&t=110s (Acesso em: 25/04/2019)

https://www.globalteacherprize.org/pt/sobre-o-global-teacher-prize/sobre-o-global-teacher-prize (Acesso em: 01/05/2019)

https://www.varkeyfoundation.org/pt/o-que-n%C3%B3s-fazemos/pol%C3%ADtica-e-pesquisa/%C3%ADndice-global-de-status-do-professor/ (Acesso em: 01/05/2019)

https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/salario-minimo-pago-ao-professor-no-brasil-um-dos-piores-do-mundo-23056381 (Acesso em: 01/05/2019)

https://novaescola.org.br/conteudo/10300/professores-do-maranhao-sao-mesmo-os-mais-bem-pagos-do-brasil (Acesso em: 01/05/2019)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *