No início do mês de setembro de 2018, a comunidade científica e toda a população tiveram uma perda imensurável; o Museu Nacional localizado no Rio de Janeiro foi consumido por chamas em um incêndio. O fogo, que se iniciou na noite do dia 2 de setembro, um domingo, só foi controlado na madrugada da segunda-feira e se alastrou por toda sua estrutura destruindo quase todo seu acervo histórico e científico acumulado ao longo de dois séculos. A maioria das peças presentes no acervo do Museu Nacional eram consideradas de extrema importância pois se caracterizavam como peças únicas, por exemplo o fóssil humano mais antigo já encontrado no Brasil com cerca de 11.300 anos, mais de 1000 artefatos de civilizações ameríndias, dentre outras.
O museu, que havia recentemente completado 200 anos, era considerado o mais antigo do Brasil e uma das instituições científicas mais importantes do país, famoso por, além de todo seu conteúdo, ter sido residência para a família real. A instituição foi fundada em 1818 por Dom João VI, inicialmente com o nome de Museu Real, com o intuito de estimular o conhecimento científico no Brasil. Com o decorrer do tempo foram coletados diversos itens, chegando a um acervo total de 20 milhões de peças até o momento do recente incidente. Em 1892, 3 anos após o início da república no Brasil, o Museu Nacional foi transferido da Casa dos Pássaros para o Paço de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, onde situava-se até os tempos de hoje.
O Brasil apresenta uma enorme quantidade e diversidade de museus. Segundo o site museu.gov.br, uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) contabilizou mais de 3 mil museus espalhados pelo território nacional. No meio desse número expressivo de instituições, podemos encontrar uma infinidade de tipos, desde os que divulgam ciência e tecnologia até os que arquivam e exibem a cultura do nosso país e da nossa história.
Ainda que existam museus com conteúdos diferentes espalhados pelo país, temos aqueles que por meio de algumas peças ou exclusividade de serviço, se apresentam como referência, não só para o país como também para o mundo. Se tratando de arte, o Museu de Artes de São Paulo (MASP), localizado na capital paulista, expõe um rico acervo de obras italianas e francesas, além de receber todo ano diversas exposições. Outro museu de artes tido como referência no Brasil é o Instituto Ricardo Brennand, localizado em Recife, que foi construído em uma arquitetura de castelo. O instituto exibe um acervo de diversas pinturas do pintor Frans Prost, que retrata a invasão dos holandeses em Pernambuco, além de uma coleção de armas e armaduras que vieram da Europa.
No campo da ciência e tecnologia podemos encontrar uma quantidade imensa de museus que abordam o assunto de diferentes formas, desde enfoques na história por trás da ciência até aqueles que focam os experimentos. Um importante museu sobre ciência e tecnologia presente no Brasil é o Museu do Amanhã, localizado na cidade do Rio de Janeiro, o qual mistura arte e ciência por meio de diversas exposições interativas que levam seus visitantes a imaginar como a tecnologia estará presente no futuro. Outro que foca nesse tema é o Museu da Ciência e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), conhecido por ter um dos maiores acervos de experimentos em ciências naturais da América Latina. Seus experimentos englobam assuntos sobre o universo, a Terra, o meio ambiente e o homem.
Para o campo da história do Brasil, há diversos museus que contam de maneira magnífica alguns dos principais acontecimentos no país. Temos o Museu da Inconfidência, construído na década de 1930 por iniciativa do então presidente Getúlio Vargas. Ele abriga os restos mortais dos inconfidentes mortos no degredo da África enquanto o Brasil ainda era colônia portuguesa. Outro museu em nosso território é o Museu do Ipiranga, localizado em São Paulo, que se encontra fechado para reforma no momento. Nasceu a partir da busca do Estado em legitimar o suposto local da Proclamação da Independência, declarada por Dom Pedro I, em 7 de setembro de 1822. O mesmo é composto por uma infinidade de objetos e pinturas, acumulando em seu acervo diversos materiais, inclusive os restos mortais de Dom Pedro I e suas duas esposas, Dona Leopoldina e Dona Amélia.
Mesmo com todo esse acervo científico e histórico, o Brasil pouco investe na manutenção e na divulgação desses museus e na divulgação de sua história e da ciência. A prova dessa falta de investimento é o próprio incidente descrito anteriormente: uma das hipóteses para o incêndio seria a falta de manutenção da rede elétrica que, por atraso de verbas, também foi postergada, mostrando o descaso com um importante espaço de divulgação da ciência, história e da arte.
“Por meio dos museus, a vida social recupera a dimensão humana que se esvai na pressa da hora. As cidades encontram o espelho que lhes revele a face apagada no turbilhão do cotidiano. E cada pessoa acolhida por um museu acaba por saber mais de si mesma.” (Instituto Brasileiro de Museus). A importância dos museus e suas atividades são inegáveis para a sociedade, espaços de conexão entre ciência cultura e arte que de muitas formas contribuem, não só para que o indivíduo tenha a oportunidade de conhecer reflexos do que a humanidade tem construído, como também tenha a oportunidade interagir, aprender, pensar e descobrir. Dessa forma, a falta de investimentos em ciência e cultura se mostra evidente, não só pelo descaso com o Museu Nacional, como outros vários museus e instituições importantes que vem sofrendo cortes de verba nos últimos anos. Isso acaba resultando em uma sociedade cada dia mais apática com ciência cultura e arte, levando muitos a ignorar a relevância disso tudo em nossas vidas e a chamar esses investimentos de gastos.
Bibliografia:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45391771