Uma parte fundamental na criação de uma nova ideia sobre o cosmos é a observação do mundo ao nosso redor. Por milhares de anos os seres humanos observaram a natureza e tentaram descrevê-la, entendê-la, encontrar respostas para as mais diversas questões. Ao observar o céu noturno, os humanos perceberam que a natureza se alterava de acordo com as diferentes configurações do céu. Logo, estes acabaram por concluir que o céu lhes passava mensagens possibilitando que se preparassem para eventos como os ventos gelados do inverno ou as frutas do verão.
Há muito tempo, provavelmente os humanos observavam o horizonte e se perguntavam se haveria um fim. Imagine-se parado no ponto mais elevado de uma região pouco montanhosa e que, ao seu redor, a Terra aparenta estender-se infinitamente. Nesta situação, é difícil evitar a inferência de que a Terra é um lugar plano que se estende por longas distâncias, e que tudo gira ao seu redor. Surge então, a base da ideia de uma Terra plana.
Essa ideia estava presente em diversas culturas ao redor do mundo, egípcias, mesopotâmicas, indianas, entre outras, possuindo algumas pequenas variações. Contudo, a observação é apenas o primeiro passo para a construção do conhecimento científico e foi na Grécia antiga que pensadores como Aristóteles e Pitágoras iniciaram os primeiros estudos conhecidos que comprovam que a Terra não é plana, mas sim uma “esfera”. O grego Erastótenes (276-194 a.C.) até calculou geometricamente o diâmetro da Terra com boa precisão. Além desses, vários outros estudiosos realizaram experimentos comprovando que a Terra não era plana.
A Conspiração
Século XXI e com ele uma grande evolução científica e tecnológica. Evolução que nos leva a compartilhar novos conhecimento de uma maneira mais rápida e fácil, principalmente com o uso da internet. Contudo, a internet tem o poder de disseminar mais do que “conhecimento” e talvez essa seja essa nossa questão aqui. Em 2016, embora já tivesse sido “comprovado” o modelo heliocêntrico, a ideia de Terra plana voltou a reaparecer, porém agora como uma teoria da conspiração.
Você pode estar se perguntando porque comprovado foi escrito com aspas? Pois bem, o que é necessário para que algo seja comprovado? O que é uma prova? Será que eu deveria ter um certo tipo de conhecimento para deslumbrar uma “prova”?
Uma coisa é certa e ninguém contesta, a teoria da Terra plana cresceu absurdamente nos últimos dois anos. Uma das evidências que nos leva a concluir isso, é a quantidade de materiais a respeito desse assunto que vem sendo publicado nas mídias sociais. Inúmeros canais do youtube e páginas de facebook trazem algum tipo de conteúdo buscando “abrir a mente” das pessoas. Contudo, o que seria realmente abrir nossa mente para dita verdade mal contada ou “escondida”?
Um dos maiores problemas encontrados para explicar o modelo da Terra plana se dá ao fato de existir inúmeras explicações distintas sobre um mesmo fenômeno.
Parafraseando Carl Sagan, um dos maiores divulgadores científicos do século XX, “alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”, (Carl Sagan, 1996, citado em “Manchete”, Edições 2309-2317 – página 128, Block Editores) e algumas das propostas do modelo Terraplanista envolvem a reformulação de conceitos há muito já esclarecidos pela Física, tais como a origem da força gravitacional.
Segundo o The Flat Earth Society, o efeito da força gravitacional se deve ao movimento acelerado para cima do sistema (figura x) a 9,8m/s^2(denominada por eles como aceleração universal). Mas será que podemos assumir que a aceleração é a mesma em todo o Planeta?
Alguns estudos nos mostram que, em diferentes latitudes ou altitudes, temos diferentes valores para a aceleração da gravidade. Por exemplo, se medirmos com algumas casas de precisão a força peso de um objeto ao nível do mar, e posteriormente medirmos a força peso desse mesmo objeto no alto de uma montanha, podemos observar uma ligeira variação dessa força. Considerando que a massa é invariante, a variação da força só pode ser justificada se houver variação da aceleração da gravidade. Isso implica que ou a mecânica newtoniana está errada, ou a aceleração não é resultado do movimento ascendente do sistema.
Nesse sistema a Terra é como um palco e o céu gira ao seu redor. O Sol, a Lua e as constelações dançam em torno de um eixo central que vai de encontro com a estrela polar, que por sua vez, permanece em repouso, motivo pela qual é usada para orientação geográfica. O Sol e a Lua se encontram a aproximadamente 4.800 e 4.100 km de altitude respectivamente e tem 51 km de diâmetros cada um.
O que esse sistema não explica, é o porque o palco é sempre o mesmo, mas as apresentações são diferentes. O modelo prevê a mesma configuração do céu em todo o planeta, entretanto, não é isso que se verifica. Algumas constelações, como a de Órion, podem ser vista de hemisférios diferentes de ponta cabeça, além disso, a estrela polar que se encontra no eixo central deveria ser vista por todo o planeta, situação que não ocorre de fato.
Por outro lado, a questão que todo terraplanista coloca é: onde está a curvatura da Terra?
A explicação para isso é bastante simples. Traçando uma reta tangente a um ponto qualquer de um círculo de raio igual a x, podemos ver com clareza as devidas curvaturas de nossa circunferência, entretanto quando aumentamos nosso raio 5000 vezes o seu tamanho inicial, essa curvatura não se torna mais tão acentuada. Agora aumente para aproximadamente quase 8 milhões de vezes e remova a linha tangente. Será que realmente deveríamos esperar encontrar a curvatura da Terra?
É interessante perceber que ao realizar uma análise mais cuidadosa nos modelos da Terra plana, é possível encontrar erros conceituais e sistemático, entretanto para os terraplanistas isso não é um problema, visto que a ciência se forma nessa base, tentativa e erro. Para todo obstáculo encontrado para explicar seus modelos, uma nova hipótese surge. Assim como a ciência foi desenvolvida com o passar dos séculos, é interessante assistir algumas pessoas dando passos iguais, mesmo que toda base para esses conhecimentos já esteja construído.
A Terra não é plana, e o heliocentrismo é consistente fisicamente em todos os aspectos, desde a Física Relativística até a Física Quântica, porém se há pessoas que desejam, por qualquer motivo, se opor a esta Física, recomenda-se que elas procurem propor modelos que descrevem o universo tão bem quanto os desenvolvidos, por anos, pelos cientistas mantendo ainda a consistência com os experimentos. Contudo, não é isso que vemos dos terraplanistas, que tentam usar a Física baseada em princípios heliocêntricos para mostrar que a Terra é plana. Não vão conseguir. Se desejam mostrar que a Terra é plana, desenvolvam uma nova Física baseada nos seus princípios e hipóteses ao invés de ficarem selecionando fragmentos do que “está certo” na Física atual, baseando a ideia da Terra Plana em um grande retalho, não em um modelo científico.
Referências:
http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=1282%3Ao-mito-da-terra-plana&Itemid=285 – O mito da Terra plana – Acesso: 01/10/2017
https://netnature.wordpress.com/2015/01/22/na-idade-media-a-terra-ainda-era-plana-para-alguns-cristaos/ Acesso: 01/10/2017
https://www.youtube.com/watch?v=JMB0fRyn0Qo&t=302s – SHAQ ESTAVA CERTO SOBRE A TERRA PLANA? |O Físico Turista #22 – Acesso: 01/10/2017