Antes de começarmos esse texto um aviso: pode conter spoilers do filme Ghost in the Shell, a vigilante do amanhã (2017).
Em março deste ano (2017) estreou no cinema o filme Ghost in the Shell (no Brasil: Ghost in the Shell, a vigilante do amanhã), uma adaptação de um mangá de mesmo nome muito aclamado pela crítica mundial. De forma geral, o filme conta a história da Major Mira Killian, vivida por Scarlett Johansson, uma mulher que tem sua consciência transferida para um corpo artificial e combate o crime em sua cidade, além disso, alguns detalhes complementam a ambientação futurística da obra – como as pessoas fisicamente modificadas. Ok, interessante… É um filme, nada de mais…
No entanto, apesar de tudo parecer exagerado e até cartunesco nesta obra, quando nos transportamos para a realidade em que vivemos e pensamos no quanto já conseguimos realizar com nossa tecnologia, as coisas retratadas no filme não nos parecem tão distantes assim.
Nós somos capazes de transplantar órgãos de um corpo para outro, implantar membros robotizados, fazer cirurgias plásticas que modificam pessoas inteiras, e mais, existe a possibilidade desse ano acontecer o primeiro implante de cabeça da história! Sendo assim, o que realmente nos impede de chegarmos ao mesmo patamar do filme?
Existem muitas respostas possíveis para essa pergunta, mas podemos começar pensando em algo que atende pelo nome de ética.
Se você prestou atenção ao assistir o filme, percebeu que a personagem principal não foi consultada sobre o procedimento que foi realizado nela e, além disso, todas as suas memórias foram apagadas, fazendo com que não existisse nada que a impedisse de assumir a posição que lhe foi atribuída. Com isso a empresa responsável conseguiu algo grandioso e criou uma vigilante perfeita, mas a que custo?
Outro ponto relevante desse filme está no fato de que todo o desenvolvimento está estritamente ligado às questões socioeconômicas: as pessoas ricas podem pagar por toda a tecnologia e desfrutam de todos os seus benefícios e as pobres são deixadas de lado e vivem em condições menos favorecidas.
Pensando nisso tudo podemos refletir sobre alguns assuntos, por exemplo: até onde podemos ir em prol do desenvolvimento científico? É possível avançar sem ferir os direitos humanos? E as consequências desses avanços são responsabilidade de quem?
Atualmente existem legislações que controlam a forma como as pesquisas científicas são feitas, mas nem sempre foi assim. Já foi muito comum testes de vacinas serem realizados em prostitutas; Em períodos de guerra muitos experimentos eram realizados em cobaias humanas; Pesquisas que procuram curas para doenças muitas vezes caem em mutações de vírus capazes de causar estragos imensos em mãos erradas.
A responsabilidade pelo uso dessas tecnologias é de quem? Dos cientistas? Ou é estritamente de quem as usa de forma indevida? Será que Lise Meitner e Otto Hahn ao pesquisarem sobre fissão nuclear sabiam o caos que a bomba nuclear causaria? Afinal, uma fonte de energia menos poluente é um sonho da humanidade, e quando finalmente chegamos próximo a isso pagamos um preço absurdamente caro. A responsabilidade pode ser atribuída aos pesquisadores? Ou será que Albert Einstein pode ser considerado um dos vilões por trás do ataque a Hiroshima e Nagasaki por ter assinado a carta enviada ao então presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, relatando os avanços alemães e cobrando urgência em acelerar as pesquisas sobre reação nuclear em cadeia? Ele pode ser culpado pelo inicio do Projeto Manhattan, que efetivamente criou a bomba?
Apesar de tudo isso, onde estaríamos se não fossem as pesquisas científicas que: possibilitaram gerar grandes quantidades de energia em pequenos espaços (como as usinas termonucleares); criaram vacinas e remédios; fizeram com que milhares de pessoas recebessem órgãos compatíveis com o seu corpo e viveram normalmente com isso?
Sempre buscamos o desenvolvimento científico, mas até que ponto pode-se colocar como prioridade esse desenvolvimento? Até que ponto os cientistas são responsáveis pela utilização indevida dos resultados obtidos por suas pesquisas?
Obviamente este texto não busca trazer respostas sobre o tema, todos os pontos levantados aqui são apenas reflexões.
Sendo assim, tente assistir novamente o filme discutido aqui (ou pela primeira vez, caso ainda não tenha assistido) e preste atenção nos pontos que levantamos. Assista outros filmes e tente olhar de uma forma mais crítica para estes assuntos. Chegue às suas conclusões e conte pra gente aqui nos comentários.
Referências
http://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/cienciaeetica.pdf
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=020175020722#.WT3KgmjyvIU
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/artigos/o-que-e-a-ciencia-12.php
http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/bh/reinero_antonio_lerias.pdf
http://saude.ig.com.br/2017-03-28/transplante-de-cabeca-sera-em-dezembro.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Carta_Einstein-Szil%C3%A1rd
https://pt.wikipedia.org/wiki/Projeto_Manhattan
https://pt.energia-nuclear.net/que-e-a-energia-nuclear/historia