A Importância da Neurociência na Formação de Educadores

Podemos entender a neuroeducação como um campo de conhecimento que emerge da intersecção entre psicologia, educação e neurociência. Com os crescentes avanços neurocientíficos relacionados à área cognitiva, pudemos entender muitos dos processos que o cérebro desempenha cotidianamente, em especial o de aprendizagem em vários graus de complexidade. Paralelamente a isso, o campo da pedagogia, há décadas, questiona sobre a natureza desse processo e sobre como torná-lo mais efetivo, prático e humano. O que segue do diálogo entre a neurociência e a pedagogia é uma série de estudos sobre como o entendimento da primeira pode impactar a segunda positivamente em salas de aula. Para promover esse diálogo o primeiro passo é entender, a partir da neurociência, como aprendemos. Para isso é necessário compreender o conceito de neuroplasticidade.

Neuroplasticidade é a capacidade que nossos neurônios possuem de criar ou desfazer conexões entre si, a partir de estímulos externos e internos. Isto é, a capacidade de, a partir das nossas experiências cotidianas, se adaptar a novas funções. Entrar em contato com novas informações cria novas conexões no nosso cérebro. Essas conexões, por sua vez, nos permitem receber novas informações e, assim, nos adaptarmos de maneira constante e dialética ao mundo em nossa volta.  Nos referimos a esse processo, no âmbito da neurociência, como aprendizagem.

Partindo deste conceito, segundo o que a Profa. Raquel Lima Silva Costa discorre em seu artigo Neurociência e Aprendizagem, podemos dizer que o que ocorre nas escolas é um processo de neuroplasticidade guiada, uma vez que, no ambiente escolar, este processo tem uma ordem a ser seguida. O professor assume o papel de incentivar e direcionar a aprendizagem para garantir a consolidação do conhecimento em questão. Esse processo envolve, entre outras coisas, atenção, memória e motivação.

No que diz respeito à atenção, é importante ressaltar que a ideia de que possamos fazer tarefas simultâneas com máximo proveito é falsa, pois nosso cérebro necessita migrar a atenção entre as atividades, prejudicando a realização das mesmas. Precisamos então diminuir as fontes de distração em sala de aula, além de prover estímulos a sentidos variados relacionados com o foco pretendido, visando assim reter a atenção do aluno por mais tempo. 

Uma vez conseguida a atenção, precisamos nos ater em como os conteúdos se fixam na memória. É necessário que o aluno consiga retomar estes conteúdos periodicamente e refletir sobre o que foi aprendido, de modo que novas associações sejam feitas ao conteúdo e as conexões neurais sejam fortalecidas. Atividades com propostas distintas sobre o mesmo tema ajudam nesse processo de consolidação da aprendizagem, permitindo que circuitos neurais já estabelecidos façam novas conexões entre si, aumentando a complexidade dessas ligações. Esse aumento qualitativo na complexidade das ligações é o que nos permite reter e aprender novas informações a partir de conceitos já conhecidos.

A motivação, por sua vez, é o que faz com que o indivíduo disponha suas energias para realizar atividades. Isso inclui, é claro, a aprendizagem. Um aluno motivado tende a ser mais atencioso em sala de aula, além de poder ter mais facilidade para reter os conteúdos aprendidos. No entanto, a motivação depende do contexto em que o aluno está inserido, podendo até variar drasticamente ao longo de um mesmo dia, fazendo com que a razão e a intensidade com a qual cada um busca novos conhecimentos seja diferente. Usar aplicações do conteúdo vistas no cotidiano do aluno é uma forma de estimulá-lo a querer aprender sobre o que lhe é apresentado. Além disso, atividades que permitam que o aluno reflita sobre o próprio aprendizado fazem com que ele enxergue as lacunas em seu conhecimento e reforce, por conta própria, sua aprendizagem, alimentando sua motivação intrínseca. 

Com tudo isso em mente, é triste que ainda vejamos programas educacionais nos quais toda esta capacidade humana é ignorada. Quando focamos a educação em um extenso currículo, sem a presença de atividades reflexivas, em que os alunos participem criticamente e ativamente, criamos apenas memórias de curto prazo. Isso explica, por exemplo, o hábito comum de alunos estudarem às vésperas de provas, a fim de memorizarem a informação para aquele breve intervalo de tempo. Essa prática é contraproducente do ponto de vista neurológico, pois não fortalece as relações entre conceitos já estabelecidos na rede cerebral, apenas cria circuitos isolados que pouco tempo depois já se desfazem.

Entendendo a neuroplasticidade, devemos lembrar também que os professores estão sujeitos a mudanças nas ligações cerebrais e que todos os fenômenos descritos na aprendizagem do estudante também valem para a aprendizagem do professor. Com isso, guardadas as devidas proporções de idade e contexto cultural, o professor deve se engajar no aprendizado tanto quanto o aluno.

Desse modo, assim como o professor não deve prender-se apenas àquilo que já sabe, os alunos também devem ser apresentados a novos conteúdos. Entretanto, é importante que antes aprofundem os conceitos aprendidos anteriormente, criando assim conexões neurais duradouras que beneficiem a nova aprendizagem. Nesse contexto, o professor deve assumir o papel tanto de mediador quanto de sujeito da aprendizagem, utilizando de abordagens que estimulem e reforcem a participação do aluno, aumentando o interesse e a satisfação no ensino. 

Há, portanto, um potencial da neuroeducação em influenciar positivamente o processo de ensino-aprendizagem. Para isso, ela precisa fazer-se, não só conhecida, como compreendida e aplicada pelos docentes e profissionais da educação. Isso carece de reformulações nos cursos de graduação que formam estes profissionais, e de atenção na formação continuada daqueles que já atuam na área, seja  em meios formais ou informais de educação.

Assinado por: Wallace Moratto, José Roberto e Lucas Ascacibas.

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