O QUE DEVEMOS ESPERAR DO METAVERSO?

A partir do anúncio de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que confirmou a mudança da logo de sua empresa para Meta, o tema sobre metaverso bombou na internet. Para aqueles que não estão familiarizados com o termo, embora ele tenha sido empregado pela primeira vez no romance pós-moderno denominado Snow Cras (1992), de Neal Stephenson, a ideia por trás dele fora já descrito também pelo livro Neuromancer (1984), de William Gibson (SCHELMMER et al., 2008).

A ideia do metaverso é descrito como sendo um ambiente virtual em formato tridimensional no qual é simulado o mundo real em que vivemos. Esse universo seria viabilizado pela existência da internet e das tecnologias de realidade virtual, o qual vai aprimorar a conexão das pessoas de qualquer lugar que elas estejam no mundo físico. Embora a proposta dessa tecnologia seja excitante, para que não sejamos cegos aos impactos que podem ser causados na humanidade, há de considerar-se como a tecnologia atual já está nos impactando. Afinal, devemos temer ou acatar o metaverso?

Ao pensar sobre o metaverso e sobre a conectividade que esse tipo de ambiente vai-nos proporcionar, logo pensamos no que já nos mantêm conectados atualmente. As redes sociais são um exemplo para essa questão e, com elas, é possível trazer algumas reflexões sobre a repercussão que essas ferramentas trazem em nossas vidas e pensar o que seria dela em um ambiente como o metaverso. Os aplicativos como Facebook, Instagram, Tik Tok e Whatsapp facilitam a comunicação entre as pessoas, o acesso ao entretenimento, a procura de empregos, a organização e a divulgação de ideias e serviços, etc. No entanto, você já se perguntou “o porquê desses aplicativos serem gratuitos?”. Essa questão foi exposta pelo professor inglês Andrew Lewis, o qual teve oportunidade de tecer suas críticas a essas tecnologias no documentário “O dilema das redes”, produzido pela Netflix em 2020. O professor comenta que nós pagamos para usar esses aplicativos com as nossas informações: padrão de consumo, horas online, hábito de like, localização, tempo de reação com notificações, etc. Com esses tipos de informações, é possível criar um perfil consumidor preciso do usuário, os quais são vendidos para as empresas que contratam as redes sociais para divulgarem seus produtos em forma de anúncios. Esse tipo de conduta acontece atualmente nas redes sociais e achamos razoável afirmar que estender essa ideia a um mundo como o metaverso, é possível. Em uma realidade virtual tridimensional em que isso também ocorra, é possível perdermos de forma significativa a nossa privacidade, na medida em que outros tipos de informações serão detectados a partir das nossas ações no metaverso. Nesse sentido, esses mecanismos de venda para as empresas interessadas nesses dados vão aprimorar significativamente os nossos perfis consumidores, tornando a venda deles ainda mais lucrativa. Todavia, é claro que o problema não para nisso, isto é, com o atendimento personalizado de acordo com o que tendemos a comprar, mas abrange-se também a outras esferas sociais. Como exemplo, vejamos o caso da Cambridge Analytica que, segundo Martins e Tateoki (2019), usufruiu de dados pessoais de mais de 50 milhões de perfis do Facebook e utilizou-os para influenciar a eleição presidencial estadunidense de 2016, o que favoreceu a campanha e viabilizou a vitória do candidato Donald Trump. À vista disso, a nossa sociedade está realmente preparada para um avanço tecnológico em que tende a potencializar esses tipos de manipulação? A intenção dos desenvolvedores é divulgada enaltecendo os diversos benefícios do metaverso, mas há sempre casos como os citados neste texto que nos fazem refletir sobre a realidade, bem como faz o professor Lewis no documentário quando afirma que “se você não paga pelo produto, é sinal de que o produto é você”, o qual é vendido como um potencial consumidor de mercadorias ou como um potencial eleitor de um país.

Por outro lado, essa ideia é excitante, a de uma amplificação de uma das principais ferramentas cotidianas da população do século XXI – as redes sociais – e que, além de ter dado as caras pela primeira vez em romances de ficção da segunda metade do séc. XX, ela faz também sua aparição em Jogador N° 1 (2011), de Ernest Cline. No livro, o ambiente de realidade virtual chama-se OASIS e é onde a população passa grande parte do seu tempo, seja para estudar, trabalhar, jogar ou simplesmente interagir entre si e, assim como o Metaverso, é uma ferramenta que permite uma conexão instantânea entre pessoas de qualquer lugar no mundo, num ambiente virtual tridimensional. Nessa linha, as redes sociais, divididas em diversos aplicativos e sites, fazem esse papel, ao passo que seus algoritmos coletam as informações e preferências do usuário e facilitam a comunicação entre pessoas de perfis similares. 

Dessa forma, o Metaverso não deve ser imediatamente acatado, por mais atraente que seja a ideia, pois uma amplificação no que compõe o estilo de vida da população atual não precisa ser de todo temida. Tem que pensar que o Metaverso é algo em construção, que não está finalizado ainda e, a cada dia que passa, nos aproximamos mais e mais da versão final. Portanto, o projeto de Zuckerberg pode ser tratado como um oásis: um ponto chave de comércio e de grupos de pessoas, mas que pode se mostrar uma mera miragem, já que, como foi exposto, muitos problemas, tanto virtualmente quanto em nossa realidade, podem acabar surgindo desse novo espaço cibernético.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SCHELMMER, Eliane; BACKES, Luciana. METAVERSOS: novos espaços para construção do conhecimento. Revista Diálogo Educacional, Paraná, v. 8, n. 24, p. 519-532, maio/ago. 2008. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/1891/189116834014.pdf. Acesso em: 05 fev. 2022.MARTINS, Marcelo Guerra; TATEOKI, Victor Augusto. Proteção de dados virtuais e democracia: fake news, manipulação do eleitor e o caso da Cambridge Analytica. Revista Eletrônica Direito e Sociedade, Canoas, v. 7, n. 3, p. 135-148, out. 2019. Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/redes/article/view/5610. Acesso em: 18 fev. 2022.

Ass: PEDRO, MATEUS, EDUARDO, GUILHERME

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