5 de junho de 2022

O Vingador do Futuro

O Vingador do Futuro (Total Recall, no original em inglês) é um filme de 1990, dirigido por Paul Verhoeven (RoboCop, 1987) e com Arnold Schwarzenegger no papel principal. O filme, vagamente baseado num conto de Philip K. Dick (autor de O Homem no Castelo Alto e Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?), se passa no ano de 2084 e conta a história de Douglas Quaid (Schwarzenegger), um operário que, após acordar de um sonho no qual estava em Marte, propõe à sua esposa uma viagem para o Planeta Vermelho.

Lori Quaid (Sharon Stone), esposa de Doug, recusa a ideia de uma viagem interplanetária e Doug decide fazer um implante totalmente realista de memória de uma viagem a Marte como um soldado/agente secreto. No processo, algo sai errado e Douglas perde o controle e parece ter memórias de um veterano de guerra, mesmo que o implante ainda não tenha sido feito.

Com isso, a problemática do filme se estabelece: Douglas Quaid começa a se lembrar de coisas que acredita não ter vivido, afinal, acredita ser um trabalhador casado há anos. Assim, perseguido por memórias e pessoas de um passado desconhecido, Douglas descobre ser, na verdade, um agente secreto chamado Carl Hauser e recebe instruções “de si próprio” ou de seu alter ego para viajar a Marte e descobrir o motivo pelo qual Hauser teve sua memória apagada e sua identidade, trocada.

Sendo um dos filmes de maior orçamento na época em que foi lançado e vencedor de um Oscar por seus efeitos visuais, o filme de ação e ficção científica cria ambientes futuristas e uma bela representação do Planeta Vermelho, fazendo bom uso dos recursos disponíveis na década de 90. Assim cria, junto com os implantes de memória, uma ideia dos avanços científicos quase um século depois da gravação do filme – de maneira similar a De Volta Para o Futuro (1985) – além de evidenciar o papel crescente da ciência no cotidiano dos personagens.

Ainda, o filme de Verhoeven engatilha debates que ligam identidade e memória, conforme acompanhamos a jornada de Quaid para devolver seu corpo a uma outra personalidade. É interessante notar a forma como as noções de identidade são postas no filme. Se, por um lado, Quaid preserva o sentimento de Hauser por Melina (Rachel Ticotin), rejeitando quase imediatamente as falsas memórias de um casamento duradouro com Lori, por outro lado, não preserva a aliança de Hauser com uma organização corrupta. Dessa forma, além de recusar entregar seu corpo a alguém que nunca conheceu, Quaid reivindica sua identidade e, junto com Melina, se opõe ao grupo do qual, um dia, fez parte.

Por fim, a principal mensagem que o filme traz – somada à sua visão futurista e o papel da ciência na sociedade – fica evidenciada na frase dita por um dos personagens: “O homem define-se por suas ações, não por suas memórias”.