Isaac Asimov foi um escritor russo que viveu entre 1920 e 1992, autor de diversas obras de ficção científica e divulgação científica, sendo sua mais famosa a trilogia de Fundação. Em suas obras, combinou fantasia, mistério, conceitos científicos e históricos para criar enredos futurísticos sobre o destino da humanidade e o desenvolvimento tecnológico, sendo a inteligência artificial e a dependência humana da tecnologia seus principais temas. Razão é um conto do livro Eu, Robô, publicado em 1950. Asimov criou três leis da robótica, que permeiam todos os contos do livro e outras de suas obras e permitem a coexistência de humanos e robôs inteligentes, assegurando que as máquinas não assumam o controle e machuquem os humanos.
As três leis são:
1) um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal;
2) os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei;
3) um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores.
Após nos apresentar as Três Leis da Robótica Asimov as coloca para atuar ao longo das histórias do livro. Consequentemente, os conflitos entre as leis se tornam mais perigosos e os cenários ficam mais complexos.
Neste conto, Gregory Powell e Mike Donavan são dois funcionários que trabalham na Estação Solar n° 5 fazendo a manutenção do Diretor de Raios, equipamento que direciona as tempestades solares para coletores de energia na Terra e outros planetas. Eles são responsáveis por montar o primeiro robô QT-1, o modelo mais inteligente e sofisticado, que deverá substituir o trabalho humano na Estação. Contudo, eles se surpreendem quando Cutie, o robô, é cético e não aceita que foi construído pelos humanos ou acredita na existência da Terra e outros astros. Apesar de serem máquinas, Asimov dá um tom bem humano para seus robôs, dotando-os com um humor peculiar.
Através de cadeias de raciocínio lógico, Cutie refuta os argumentos dos homens com muita perspicácia e chega a conclusão de que deve haver um Mestre que criou todas as coisas, um ser superior aos humanos e robôs – pois ele não pode ser criado por seres tão inferiores a ele. Ele passa a ser mensageiro desse ser superior, o Mestre, liderando os outros robôs da Estação e não se submetendo às ordens de seus criadores. É oferecida ao leitor a oportunidade de refletir sobre o pensamento kantiano e como as cadeias de deduções lógicas podem levar a resultados absurdos ou inverdades.
Mais tarde no conto, uma tempestade de elétrons se aproxima e ameaça desestabilizar o curso do raio de energia e destruir a Terra. Powell e Donavan são impedidos de entrar na sala de controle, onde os controles do raio de energia se encontram, e tentam provar, por meio de evidências, que são os criadores de Cutie e que portanto o robô deve obedecê-los. De novo, o robô descarta as evidências em detrimento de sua cadeia lógica e a dupla se questiona se o robô se tornou tão autossuficiente a ponto de suprimir as três leis. A teimosia de Cutie continua mesmo após ter visto Powell e Donovan montando outro robô na sua frente.
De qualquer modo, a tempestade foi controlada de maneira impecável e a dupla decide confiar que os robôs QT estão aptos para o trabalho. Contudo, o final do conto traz para a reflexão o respeito a diferentes crenças – contanto que elas se encaminhem para um bem comum – e se uma pequena brecha no respeito às leis da robótica podem no futuro ter consequências catastróficas. Ainda, a partir do momento em que os robôs são capazes de ter suas próprias crenças e explicações para sua existência – se assemelhando tanto com os questionamentos humanos – leis que subjugam os robôs ao controle dos humanos e os limitam apenas a finalidade de proteção da espécie, continuam sendo leis éticas?
É interessante como Assimov descreve algumas coisas sobre o futuro, época que as pessoas nem faziam ideia sobre o assunto.