10 de outubro de 2022

Ghost In The Shell, Humanidade, Identidade e Contemporaneidade

Considerado um clássico da animação japonesa, e da cultura pop em geral, Ghost in the Shell é uma obra que, junto com outras obras de sua época, é um clássico do movimento cyberpunk, até mesmo influenciando outras obras de grande destaque, como Matrix. A animação de 1995 é uma adaptação em longa metragem do mangá de mesmo nome escrito e ilustrado por Shirow Masamune. A animação, assim como o mangá, debate temas que até hoje são relevantes, como por exemplo os efeitos da tecnologia na vida dos usuários.  O nome da obra vem do fato de que seus protagonistas, em sua maioria, são ciborgues, cascas robóticas com uma alma humana, um cérebro, uma consciência que pode ser acessada por uma interface humano-máquina. 

A obra conta a história de uma ciborgue chamada Motoko Kusanagi, conhecida como major, uma agente de uma unidade de defesa do governo japonês. A trama se desenvolve em meio a uma investigação que a major e sua equipe conduzem para tentar capturar um criminoso internacional conhecido como mestre dos fantoches. Esse apelido foi dado ao criminoso, pois seu modus operandi consiste em controlar indivíduos implantando ou apagando memórias na alma das vítimas. Ao longo da animação, esse tema ressurge em diferentes formas, por exemplo na crise existencial da protagonista em relação ao próprio corpo cibernético, afinal, o que garante que ela é quem pensa que é? Num mundo em que memórias podem ser implantadas e apagadas  da mente das pessoas, como podemos saber quem somos? 

Outro tema que surge em meio a trama, e que tem muito a ver com o que foi dito anteriormente, é a relação dos indivíduos com a tecnologia. Fica claro em um dado momento que é raro entre os muitos agentes que trabalham com a major indivíduos que não possuam muitos implantes cibernéticos, um deles, Togusa, questiona a major o motivo deles quererem alguém como ele em sua unidade, e ela responde dizendo que é importante que exista diversidade no grupo, para que sejam menos previsíveis em suas formas de reagir a situações. De certa forma, ela o responde com um apelo à individualidade, um reconhecimento de que ao mesmo tempo que seu corpo de alta tecnologia traz melhoramentos, também traz limitações. Em um outro momento, numa cena de visual impecável e quase contemplativa, a Major questiona a Batou, seu braço direito na unidade, se ele acredita que conseguiria viver sem a manutenção que recebe do governo. Nessa cena, não só fica escancarada a crítica à relação homem-máquina, mas também pode ser traçado um paralelo com as relações de trabalho e com a exploração daqueles que dependem do fruto desse trabalho para viver. No caso dos ciborgues, a necessidade de manutenção, num caso mais cotidiano, a necessidade de dinheiro para sobreviver na sociedade. São esses debates, que surgem espontaneamente durante todo o filme que o tornam um clássico do gênero cyberpunk, e que o mantém fresco e contemporâneo, mesmo mais de 20 anos depois de seu lançamento.